O vírus mais ativo da Internet
Márcio d'Ávila, 16 de maio de 2003. Revisão 3, 23 de março de 2021.O vírus há mais tempo em circulação da Internet continua em atividade. Chama-se boato, e em inglês atende também pelo nome de hoax. Quando travestido para parecer notícia, porém falsa, tem sido modernamente chamado fake news.
O boato pode chegar com aparências diversas, mas sempre tenta avisá-lo de algo chocante, urgente ou empolgante, deixar você sensibilizado ou alarmado e fazer com que você o espalhe em grande escala, o mais rápido possível.
Escrevi este artigo há mais de 15 anos e ele continua mais atual que nunca, reforçando o quão longevo e ativo é o boato.
Sintomas:
Se você acredita em tudo que recebe, acha que a maioria dos seus contatos são fontes confiáveis de informação ou do repasse delas, crê que o envio de uma mensagem sua na Internet pode salvar uma criança com câncer ou fazer você ganhar prêmios ou dinheiro de empresas, pensa que a imprensa sabe mais sobre vírus de computador do que os centros de pesquisa das maiores empresas de segurança (Kaspersky, McAfee etc.) e, principalmente, repassa sem pestanejar todo alerta que recebe, cuidado: você (sim, você, e não seu dispositivo eletrônico) está contaminado pelo boato.
Como curar:
- Pense mais e tecle/clique menos.
- Não seja ingênuo e não deixe que abusem de sua boa-fé ou seu desconhecimento. Desconfie.
- Assuma que todo alerta recebido por mensagens pessoais é boato, até que se prove em contrário.
- Contenha seu impulso de repassar alertas. Conscientize-se: e-mail, WhatsApp, redes sociais e outros meios de comunicação pessoal na internet não são confiáveis nem tampouco adequados para divulgação em massa. Usados dessa forma, agem como a fofoca boca-a-boca sem credibilidade, só que no mundo digital e em uma proporção muito maior e mais promíscua.
- Faça uma análise crítica do que receber. Pesquise no Google a palavra "boato" seguida por palavras-chave do suposto "alerta" recebido (exemplos: "boato menina câncer", "boato prêmio microsoft"). Se for boato, você logo encontrará páginas sérias denunciando a mentira.
- Trate de adquirir um bom antivírus para computadores e dispositivos móveis com atualização automática.
- Busque e apoie fontes (empresas, pessoas) de pesquisa e jornalismo sérios (ou seja, o mais imparciais possível) e especializados, que dominam e investigam cada assunto, e saiba que são poucas. São raras fontes que divulgam alertas reais e criteriosos seja sobre boatos, seja sobre ameaças e vulnerabilidades de segurança digital, questões de saúde, segurança pública e afins.
Anti-boatos
A seguir listo sites especializados em fact checking (checagem de fatos), investigação de boatos, lendas urbanas e fake news (notícias falsas):
- Boatos.org, site independente criado em 2013 pelo jornalista de tecnologia Edgard Matsuki.
- e-Farsas, site independente criado em 2002 pelo analista de sistemas Gilmar Henrique Lopes.
- Lupa (ou lupa.news), "primeira agência de fact-checking do Brasil", fundada em novembro de 2015, incubada no site da revista Piauí, no site da Folha de São Paulo, UOL.
- Aos Fatos, agência de checagem de fatos independente, com sede no Rio de Janeiro.
- Checamos - Informação checada pela AFP, Agência France-Presse.
- UOL Confere, no portal UOL.
- Fato ou Fake, no portal G1 (Globo.com), tem uma equipe de jornalistas de veículos do Grupo Globo; antes se chamava É ou Não É.
- MonitoR7, checagem de fatos da Record.
- Polígrafo, "O primeiro jornal português de Fact-Checking", Portugal, mantido pela empresa "Inevitável e Fundamental" e hospedado no portal Sapo.pt.
- Lead Stories, em inglês, website de website de jornalismo lançado em 2015 que se especializou em fact checking de conteúdos em alta na internet (trending content) identificados por tecnologia big data. Desde 2019 mantém parceria com o Facebook de verificação de fatos terceirizada (third party fact checkers).
- International Fact-Checking Network (IFCN), em inglês, iniciativa lançada em 2015 para reunir e fomentar a comunidade de verificadores de fatos (fact-checkers) em todo mundo e combater a desinformação. Código de princípios da IFCN.
- [Inativo] Me Engana que Eu Posto, blog editado pelo jornalista João Pedroso de Campos, no portal da revista Veja, Editora Abril (aparentemente inativo desde janeiro 2020).
- [Inativo] Estadão Verifica, bog de checagem de fatos e desmonte de boatos do jornal Estadão, Agência Estado, São Paulo (aparentemente inativo desde maio 2020).